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O Banco Central pode se ver obrigado a retomar a alta da taxa de juros mais cedo do que esperado, pondo fim a um breve momento de estabilidade. Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de setembro, a autoridade monetária sinalizou ao mercado que o juro seguiria estável em 10,75% ao ano nos próximos meses. Mas os economistas começam a colocar o início de 2011 como limite para uma mudança.
Se ela ocorrer, será resultado da reconstrução de um cenário baseado no aumento da demanda, atividade e inflação já no terceiro trimestre de 2010, situação oposta à que se verificou de abril a junho. Os indicadores mais recentes já captam a inflexão da atividade e departamentos econômicos de alguns bancos distribuíram, neste final de semana, relatórios mostrando que "a lua-de-mel com a inflação" pode ter chegado ao fim.
"Mantemos a visão de que a desaceleração econômica do segundo trimestre foi temporária e não uma alteração estrutural. Portanto, se o BC não retomar o processo de aperto monetário, a inflação deverá permanecer rodando acima da meta. Tal percepção poderá ser reforçada com a divulgação da produção industrial de agosto, para a qual projetamos uma elevação mensal de 0,8% em termos dessazonalizados, um resultado que teria trazido a média trimestral da produção industrial no terceiro trimestre para o mesmo nível registrado no segundo trimestre. Desnecessário dizer o que isto significará para as perspectivas de política monetária caso nossas estimativas se mostrem corretas", escreve o economista do Banco Espírito Santo (BES) Jankiel Santos em relatório. A perspectiva de Santos é de que a elevação ocorra já na primeira reunião do Copom em 2011, a ser realizada em janeiro.
O IPCA-15, espécie de prévia do indicador da inflação oficial, fechou setembro com uma alta de 0,31% depois de ter registrado leve deflação de 0,05% em agosto e recuo de 0,09% em julho. "Bastou um pequeno conjunto de evidências para acabar com o júbilo provocado por três meses de inflação zero", diz o economista-sênior do Santander, Maurício Molan, em relatório. "A alta de preços de commodities, os preços em aceleração no atacado e uma prévia de IPCA pouco mais alta que o esperado reverteram, de forma que nos parece definitiva, o movimento de queda de taxas associado a uma perspectiva mais benigna para a inflação e a Selic", diz o economista do Santander. Mais do que isso, acrescenta Molan, os dados de atividade reconstroem um quadro de crescimento forte da demanda após a acomodação observada no segundo trimestre.
Segundo dados do economista e superintendente da Associação Comercial de São Paulo (Acesp), Marcel Solimeo, as vendas do comércio varejista vêm crescendo a uma taxa superior a 10% nas comparações interanuais e devem fechar 2010 com expansão de 10% sobre o ano passado. Já a economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli, ressalta os dados fortes do mercado de trabalho, tanto pelos cálculos do Ministério do Trabalho como pelo IBGE, e os números do Banco Central sobre o mercado de crédito, indicando crescimento acelerado da concessão de empréstimos e baixo nível de inadimplência. "Ao que tudo indica, chegaremos ao final de 2010 com um crescimento de 8% com desaceleração limitada", diz Maristella.
No que se refere à pesquisa mensal do emprego (IBGE), a economista cita que o crescimento do rendimento do trabalhador, já descontada a inflação, mereceu atenção. Entre agosto desse ano e o mesmo mês do ano passado, o crescimento foi de 5,5%. Na construção civil essa variação atingiu 9,3%. "A julgar pelas negociações em curso, esse indicador deve continuar mostrando crescimento nos próximos meses. Esperamos um reflexo desse movimento nos índices de preços nos próximos meses", prevê a economista. E continua: "Reforçando o ambiente positivo do mercado de trabalho, o relatório sobre o mercado de crédito divulgado pelo BC não poderia mostrar melhor fotografia. Os juros para as pessoas físicas recuaram ao menor nível da série e a inadimplência segue bastante baixa", observa Maristella.
Para ela, com a renda do trabalhador em alta, taxa de desemprego muito baixa e abundância de crédito ao consumidor e às empresas, o Brasil se prepara para o melhor Natal dos últimos anos. "Como consequência, os índices de inflação devem mostrar pressão nos próximos meses, culminando em uma retomada do ciclo de alta de juros no inicio de 2011", prevê a economista.
Diante desse quadro, Santos coloca também em seu relatório que "chegou a hora de descobrir se a autoridade monetária brasileira entrou em um novo estágio na maneira de cumprir sua tarefa de manter a inflação em linha com as metas estabelecidas". "A decisão de encerrar o ciclo de altas no começo de setembro foi por conta de projeções de inflação convergindo para 4,5% ao final de 2011 ou o BC decidiu manter a taxa Selic inalterada porque a convergência seria atingida em meados de 2012?", questiona o economista.
Para ele, caso a primeira opção seja a resposta, a conduta seguida desde a implementação do regime de metas de inflação terá permanecido intacta. "Porém, caso o modelo de projeções do BC aponte números acima de 4,5% para 2011 - mas em linha ou abaixo da meta de inflação para 2012 - poderá dizer que o horizonte temporal para que a convergência se materialize foi ampliado", complementa Santos. "Afinal de contas, isto significaria que o BC não se sentiu incomodado em não cumprir a meta por dois anos consecutivos - embora um nem tenha começado - porque este processo estaria garantido no médio prazo. Embora sutil, tal mudança teria um efeito importante nas diretrizes de política monetária", diz.
"Tomando por base a ata da última reunião do Copom, avaliamos que as projeções do BC estejam próximas à meta (4,6% para dezembro de 2011 e de 4,5% para junho de 2012 em termos interanuais), sinalizando assim a continuidade da conduta original", afirma Santos.
As projeções de inflação de 2010 e 2011 devem estar presentes no Relatório Trimestral de Inflação, que ainda não tem data para ser divulgado, mas deve vir a público ainda esta semana já que o BC tem prazo de até o dia 30 para fazê-lo.
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